terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Pai e filho vão de moto até o Aconcágua, na Argentina, uma delas era Honda Pop 110i


Filho vem do Japão, tira “carta de moto” e acompanha o pai numa aventura ao Aconcágua, a montanha mais alta da América Latina

Por Ricardo Sussumu Hirose edição Cicero Lima

Fotos: arquivo pessoal

“Foi a melhor viagem da minha vida”, disse o economista Ricardo Sussumu Hirose, ao lembrar-se da aventura com o filho Daniel. O motociclista, dono de uma Honda Shadow 750, ano 2006, fala com entusiasmo do roteiro de 35 dias que começou no final de janeiro até início de março do ano passado. Ao lado de Daniel, que foi numa Honda Pop 110, deixou Itatiba (SP) para percorrer 8.500 quilômetros e fortalecer os laços entre as gerações. Confira seu relato:

“Como a maioria dos pais da minha idade (67 anos), tenho comigo a certeza de ter sido negligente no acompanhamento dos meus filhos, Daniel e Juliana. Tal atitude é “justificada” pela necessidade de trabalhar e garantir um futuro melhor etc. etc. Mas, hoje, sei que poderia ter sido diferente.

Meu filho Daniel é uma pessoa muito calma, não me lembro de ele ter agredido alguém com palavras ou fisicamente. Crítico e quase um autodidata, lê muito, e tem sua própria visão do mundo. Embora vivendo há dez anos fora do Brasil, é um cara muito ligado aos parentes e gosta dos encontros familiares que costumo fazer todos os anos. 

Esta foi a primeira vez que viajamos apenas eu e ele, e foi muito bacana, pois tivemos a oportunidade de nos conhecermos melhor. Posso afirmar, com certeza, hoje o entendo mais e somos ainda mais amigos. Não teria melhor companheiro de aventura do que ele.

Embora soubesse pilotar, o Dani gosta de bicicleta, mas em 2018, ele voltou ao Brasil, e sabendo do meu sonho de fazer uma boa viagem com minha moto, se dispôs a tirar “carta” e viajar comigo. Fiquei muito animado, e inicialmente pensamos em viajar no final do outono de 2018. Tivemos que postergar e decidimos adiar para o começo de 2019, após os encontros familiares do final do ano.

Pouco rodada


Havia comprado a Shadow em 2009 com apenas 3.000 km e, depois de dez anos, rodei só 4.000 km. Com a companhia de Dani, finalmente estava prestes a realizar meu sonho, uma grande viagem. 

Eu havia feito um roteiro com pouco mais de três mil quilômetros e sem grandes desafios. Passaríamos por Santa Catarina, conheceríamos Foz do Iguaçu (PR), Araçatuba (SP), que é minha cidade natal, Capitólio (MG), e voltaríamos para Itatiba. 

Pedi ao Dani para sugerir um roteiro e ele veio com essa aventura de 8.500 quilômetros a fim de conhecer o Aconcágua, próximo de Mendoza, Argentina. Fiquei meio assustado no início, mas como não tínhamos limitação de tempo, combinamos que faríamos uma viagem tranquila, sem pressa, aproveitando todas as boas coisas dos locais que iríamos passar. Definimos previamente as principais paradas e outras decidimos no dia anterior ou conforme as necessidades ou interesses do momento.



Saímos de Itatiba e passamos pela Rota da Serpente, em Apiaí (SP), e iríamos para a Serra da Graciosa, Morretes (PR), mas pegamos uma chuva brava e resolvemos desistir e deixar para outra oportunidade. Seguimos para Florianópolis (SC), adoro ostras frescas e camarão. Ainda em Santa Catarina, rumamos para a Serra Rio do Rastro, que justifica sua fama. Depois, foi a vez de conhecer os cânions de Itaimbezinho e Fortaleza, em Cambará do Sul (RS).

Nossas motos rumaram para o Chuí (RS), na divisa com o Uruguai. Eu tinha que pôr os pés naquela cidade, pois morei em Macapá (AP) e conhecia o Oiapoque, só para poder falar que fui do Oiapoque ao Chuí. 

Eu me senti no Uruguai, o idioma falado era castelhano e os preços estavam em pesos. Fizemos a imigração e entramos no país vizinho. Percorremos o litoral, até Punta del Este. Já havia visitado, num cruzeiro, mas de moto é muito melhor para ver aquela bela cidade. Seguimos para Montevidéu e, depois, Colônia do Sacramento, para fazer a travessia a Buenos Aires, Argentina. 

Pop ganhou destaque

No barco, durante a travessia, a Honda POP 110 foi atração. No meio das motos possantes, incrédulos motociclistas tiraram até selfies montados na caçulinha.


Buenos Aires, sempre bom visitá-la. Ficamos numa bela casa de família que alugamos pelo aplicativo Airbnb. Na casa, havia uma excelente parrilha (churrasqueira), prontamente fomos comprar umas boas carnes e vinhos, e nos deliciamos com os novos amigos anfitriões. Seguimos para Mendoza, mas dessa vez não fui visitar as ótimas vinícolas da região. Seguimos para Termas de Cacheuta, com suas piscinas de águas termais de 40 graus, rodeada pelos Andes, lindo demais. Esse foi um dos melhores momentos da viagem.

Sempre que possível, optamos pelo acampamento. Desde jovem, nos anos 1970, montava minha barraca no litoral em Bertioga, Perequê, Caraguá, Ubatuba e, principalmente, em Ilha Bela.

Foi uma excelente oportunidade, pois o Dani também gosta de acampar quando viaja de bicicleta. Montar a barraca, fazer uma comidinha simples no fogareiro de gravetos, apreciar o nascer e pôr do sol, e dormir debaixo de um céu estrelado, que não se vê nas grandes cidades, é impagável.


Nosso ritmo de viagem era bem tranquilo, rodávamos em média 400 quilômetros. Nossa velocidade era, em média, 80 km/h, porque respeitamos as limitações da POP 110. Na Argentina, mesmo existindo uma grande malha de postos YPF, a POP teve uma pane seca, mas foi por nosso descuido. Encontramos uma casa onde o proprietário nos cedeu um pedaço de mangueira do chuveiro e o problema foi resolvido.

A POP não fez feio na viagem, mas se houver uma próxima aventura, vou sugerir ao Dani uma moto maior, que será mais confortável.

Seguimos viagem para Uspallata, pequena e charmosa vila já próxima do Parque Provincial Aconcágua. Depois continuamos rumo ao pico mais alto da América Latina, com 6.962 metros de altitude. No trajeto, passamos por Potrerillos e Puente del Inca para, por fim, chegarmos ao destino. 

Dizer o quê?

Difícil expressar em palavras minha felicidade e a sensação de meta atingida. Mas nem tudo eram flores, tínhamos planejado acampar no parque, porém ficamos sabendo que precisávamos ter solicitado a licença em Mendoza. Hoje, também me arrependo de não ter ido até o Chile e conhecer os Caracoles, estávamos tão perto...

Voltamos desapontados para Uspallata, mas teríamos coisas boas pela frente. Começamos o caminho de volta, seguindo para Mendoza pelo El Camino de las 365 Curvas. Já havia feito de carro, mas descer aquela estrada de rípio de moto foi incrível. Algumas manadas de guanacos, que surgiam pelo caminho, trouxeram ainda mais emoção no trajeto. 


De Mendoza, seguimos para Santa Fé, depois Corrientes e Paso de la Pátria. Ficamos alguns dias pescando dourados, devidamente devolvidos ao rio. Também capturamos outros peixes que o barqueiro nos preparou de forma rudimentar na barranca do rio, acompanhados de cervejas Quilmes bem geladas. Seguimos sentido Puerto Iguazú, chegamos a Foz do Iguaçu (PR) e, finalmente, ao Brasil! 

Já havia passado por Foz duas vezes, mas não conhecia as cataratas, valeu a pena, que espetáculo. Seguimos para Maringá (PR), onde tenho uma irmã, depois para Araçatuba, a fim de rever os amigos e minha querida sogrinha. Passamos o Carnaval com meus amigos e retornamos para casa ainda mais unidos, agora nos conhecendo ainda melhor.”



Reencontro

Posso dizer que a viagem com meu pai foi meio que um “reencontro”. Sempre fomos unidos, mas depois de adultos e ainda mais comigo viajando sempre e morando no exterior, perdemos um pouco daquele elo mais forte de quando eu era criança. Essa viagem reacendeu a vontade de fortalecer essa ligação e viver mais aventuras junto com meu pai.

Nota da redação: Este depoimento foi enviado por Daniel, em meio a uma viagem solitária com sua bicicleta pelo sul do Japão, confira no site www.ovagamundo.com.br