segunda-feira, 8 de março de 2021

Pela terra, pela água, pelo ar fomos de Honda Africa Twin até o extremo Oeste do Acre


Participei da Rider Expedition Amazônia que nos levou até o extremo oeste do País. Trajeto repleto de descobertas e surpresas começou em Rio Branco (AC) e terminou no Parque Nacional da Serra do Divisor junto à fronteira com o Peru na desafiante selva amazônica.

Por Cicero Lima Fotos Marcelo Vigneron

Aos poucos o pessoal da equipe ficava pequeno, do tamanho de formigas. O balão ganhava altura e o som do maçarico ecoava nas cercanias de Rio Branco despertando os cachorros. Em pouco tempo a matilha bradava para o enorme balão verde desafiando a lei da gravidade e chamando  mais atenção que o sol no amanhecer. Fiquei com vontade de me beliscar parecia um sonho, poder voar de balão no último dia de uma semana intensa, desafiadora e cheia de surpresas. 

No último dia da aventura ainda faria um incrível voo de balão sobre a floresta

Para quem mora no Sul e Sudeste, Rio Branco é uma cidade distante. Quem pensa assim está coberto de razão, contra números não há argumentos, mais de 3.500 quilômetros separam São Paulo da capital do Acre.

Apesar da distância, Rio Branco é a melhor saída para chegar ao Peru – como fiz em 2016. Porém, dessa vez, meu destino era outro. Queria chegar ao ponto mais a Oeste do Brasil, mas precisamente a pequena cidade de Mâncio Lima e de lá seguir de barco até o Parque Nacional da Serra do Divisor.

Se o nome já causa coceira na mão de quem gosta de aventuras, a realidade da região, que só pode ser acessada por barco ou pelo ar, é ainda mais surpreendente. Embarque comigo nessa aventura que começou por terra, passou pelo rio e terminou num incrível rasante sobre a copa das árvores.

Aventura com mordomia

O convite para acompanhar a expedição, no final do ano passado, veio de surpresa. Arrumei as malas e embarquei no voo da Latam até Rio Branco. Lá encontrei os amigos Osvaldo Dias, da Star Motos, e Cassiano Marques, EME Amazônia. Ambos são responsáveis pela operação Honda RedRider na Região Norte do Brasil (veja box).

A simples dos anfitriões já é garantia de diversão, organização e descobrimentos. Ambos conhecem bem e já percorreram praticamente toda a América Latina em diversas aventuras e agora queriam mostrar para os participantes da Rider Expedition Amazônia as belezas singulares da Serra do Divisor. Então, vamos lá...

motos perfeitas e abastecidas, equipe de apoio... o que eu queria mais?

Quem calibrou, lubrificou, abasteceu? Não sei!

Sem qualquer preocupação com manutenção, abastecimento ou roteiro – tinha apenas a “árdua” tarefa de pilotar a Honda Africa Twin 1000. Na manhã do sábado (05 de dezembro) bem cedinho as motos estavam prontas e perfiladas na porta da concessionária e começaria a nossa viagem.

Rumando sempre para o Oeste, o grupo de 10 motos e 2 picapes de apoio, acessou BR-364 e fomos em direção oeste. A bagagem seguia na picape de apoio e tinha comigo apenas a bolsa tanque – muita mordomia kkkkk.

Estou acostumado a cortar o Brasil na minha velha e confiável PCX (ano 2013) por isso a viagem começou como um sonho. Tendo pela frente o guidão da Africa ouvia os pneus engolindo o asfalto da estrada, naquele dia rodamos quase 700 quilômetros.

 Sol, asfalto quente e céu azul ... Aí o tempo muda, nuvens cinzas, tempestade forte e uma parada para o café da manhã. Claro que escolhi o Baixaria – prato típico da região – para reforçar o corpo.

Depois uma parada para almoço, em um exótico pesqueiro, com direito a nadar no banhado e comer peixe e outros pratos típicos da região. Ainda tivemos tempo para dar uma cochilada. 

Não faltaram paisagens exóticas e locais incríveis para rodar com a Africa Twin

A estrada passa por florestas fechadas, pequenas cidades e muitas vilas. O interessante é que em cada casa, geralmente palafita – para ficar acima do nível da água na época de cheias - se vê uma moto e uma pinguela de acesso. Realmente é um Brasil pouco conhecido que se descortinava à frente do meu capacete... Mas teria outras surpresas pelo caminho.

Ao fim do dia entramos na agitada Cruzeiro do Sul e nos hospedamos no Hotel Sesc, uma grata surpresa tanto pelo visual do lugar quanto pelo conforto das acomodações. Em minhas viagens, não estou acostumado a tanto luxo kkkk.

Depois de uma calorosa recepção, com direito e show típico, foi a hora de tomar aquela cerveja gelada, relaxar e pois no dia seguinte começava a parte fluvial da nossa aventura. Iríamos conhecer o Rio Croa...

Prazer, eu sou o Croa!

O Rio Croa que uma APA (Área de Proteção Ambiental) que se tornou conhecida pelas comunidades daimistas (Santo Daime) que usam o Chá do Ayuaska em seus rituais. Subimos o rio em pequenos. As águas negras e limpas do Rio Croa são moradas de diversas plantas entre elas a vitória régia. Era um domingo de muito calor e, na medida que o barco subia contra a corrente, surgiam pequenas comunidades e muita gente se divertindo dentro e fora da água. Crianças pulando das árvores, mostrou como a infância pode ser divertida longe do smartphone...

Rio Croa recebe turistas de todo o planeta para conhecer sua flora e as comunidades daimistas

Os rios têm uma função importante naquela parte do Brasil onde não existem estradas, apenas a floresta e água, muita água. Com a ajuda da guia Cintia Flores conhecemos a comunidade daimista Flor de Jurema, depois experimentei o chá de Ayuaska e chegamos perto da Samaúma uma árvore enorme e sagradas para o povo da floresta. 


Comunidade Daimista Flor da Jurema, ao lado, a árvore da Samaúma - que é considerada sagrada pelo povo da floresta


No dia seguinte, o grupo ficou em Cruzeiro do Sul para conhecer a maior cidade do Oeste brasileiro. Construções histórias, o mercado e a incrível arte de marchetaria foram o cardápio o almoço foi no Igarapé Preto, mas um deleite para os olhos e sabor. O interessante desse lugar é o silêncio, aos poucos a preocupação com o celular dava espaço para a contemplação da natureza e o bate papo tranquilo às margens do rio com sua areia branca e águas calmas como uma piscina.

Prazer, eu sou o Moa!

O dia amanheceu e já estávamos no pequeno porto de Mâncio Lima. O lugar é frenético com intensa movimentação de pequenos barcos que levam de tudo. Desde as compras do mercado até o cachorro que passou mal e foi no veterinário. Prá dizer a verdade achei aquilo uma loucura, bem diferente do Rio Croa com seus turistas e gente curtindo suas margens – aquele porto mostrou a realidade daqueles brasileiros que moram no extremo oeste.

Barcos recebem mantimentos para a longa viagem e a estadia na Serra do Divisor

Todos ajeitados, tralhas embarcadas e começa a aventura de subir o rio em direção ao Parque Nacional da Serra do Divisor. O Brasil tem mais de setenta parques nacionais, conheço alguns, mas este – que faz divisa com o Peru em plena selva amazônica – era novidade.

O motor de dois cilindros e 35 cavalos da voadeira parece brigar contra a forte correnteza do rio e suas inúmeras curvas serpenteando a floresta inundada. Não há terra e, a cada curva, o caminho se mostra mais desafiador. Habilidosos os barqueiros controlam a direção da embarcação e a potência do motor usando as mãos e as pernas. Para ganhar tempo e economizar combustível, entram em túneis sob as árvores para cortar caminho. Esses túneis, que ele chama de furos, são estreitos e emocionantes.

A imponente Samaúma se destaca e parece observar os viajantes que sobem o Rio Moa

Como teríamos uma viagem de quase dez horas as paradas para lanche e até almoço foram  necessárias. Nas estradas paramos no acostamento, no rio paramos nas prainhas. Não há como negar, foi um almoço pitoresco com a quentinha na mão observando o enorme volume de água descendo enquanto borboletas coloridas dançavam è nossa volta, uma enorme samaúma ao fundo tudo ao som da algazarra dos pássaros. Lembrei do meu personagem preferido no cinema, Indiana Jones.

O cenário muda a cada curva, pode ser uma pafalita colorida, uma igreja ou uma pequena fazenda de gado, trecho de mata fechada ou árvores enormes apesar de ser um rio, a cada curva é um novo lugar. 

Conectados e desconectados

Durante o trajeto fizemos uma parada rápida na Comunidade Nukini e não deixei de notar as imensas antenas da Embratel. A comunidade tem telefone público e sinal de internet, um dos poucos lugares da região “conectados com o mundo” lá para aquelas bandas.

Quando o sol começou a deitar no horizonte, já havíamos navegado mais de 180 km e surgiu a imponente Serra do Divisor. Finalmente! Chegamos na Pousada do Miro, quem gosta de aventura vai adorar esse passeio de barco.

Era uma terça feira e ficaríamos lá até sexta, com um vasto cardápio de caminhadas, cachoeiras, cavernas e até a visita a uma curiosa construção – fruto da exploração do petróleo na década de 1930.

Dez horas de navegação e chegamos na Pousada do Miro, já no Parque Nacional

Nesse tipo de viagem tudo é intenso, as distâncias são longas e as caminhadas exigem determinação e disposição para acordar cedo. No primeiro dia na floresta as quatro da manhã já estávamos embarcando para subir algumas centenas de metros no rio para acessar a trilha para o  mirante da Serra.

Finalmente havia chegado a hora de subir na plataforma e conferir toda a vastidão da floresta e ver ao longe a divisa Brasil-Peru. Lembra que eu falei de determinação? Pois é, precisamos muito dela para superar a íngreme trilha que corta a floresta. Em meio aos primeiros raios do sol e o som dos pássaros, minha respiração ofegante contrastava com o suor matinal ensopando a camiseta. Apesar disso, estava feliz, poucos brasileiros já fizeram aquela caminhada e chegaram naquele ponto extremo do nosso País.


Além das caminhadas para conhecer o parque e suas cachoeiras e grutas (como a Gruta do Sérgio), a observação de pássaros é uma atividade muita famosa no parque. Visitantes de todo o mundo vão até lá para fotografar, ver e ouvir algumas aves peculiares da região.

Vista do sol nascendo no alto da Serra do Divisor, perto da fronteira com o Peru

Já acostumado a ficar longa da internet e telefone, eu começava a dar mais atenção aos bate papos e principalmente a culinária do local. O Miro e sua família nos recebeu muito bem enquanto a Dona Eva, sua sogra, caprichava no café da manhã sempre farto, assim como o almoço e jantares. A cada refeição uma nova surpresa que sempre agradava. As calorias eram queimadas nas caminhadas.

Comunidade Nukini

Ficamos lá por quatro noites e a sexta feira chegou rápido e tínhamos que voltar para a civilização e a internet. No retorno passamos novamente na República Aldeia Nukini e fomos recebidos com uma apresentação típica e com muita simpatia. O povo Nukini espera o fim da pandemia para começar a receber turistas e hospedá-los em seu território.

Mantendo o distanciamento, fomos recebidos pela Comunidade Nukini

A volta foi mais rápida, estávamos a favor da correnteza, e chegamos a tempo de almoçar com tranquilidade. No dia seguinte voltaríamos para Rio Branco.

Estava com saudade de pilotar a Africa Twin. A moto já estava limpa, lubrificada, abastecida, pneus calibrados etc.. Tudo responsabilidade do Júnior, mecânico responsável, pelo bem-estar do equipamento e pilotos durante o trajeto.


A volta sempre parece ser mais rápida, talvez por já conhecer o caminho, no fim do dia já estávamos em Rio Branco. Após um breve e comovente confraternização, onde ganhei o Certificado, voltamos para o hotel arrumar as bagagens e preparar para a última aventura do roteiro: voar de balão.

Para voar com tranquilidade é preciso acordar bem cedo. Embora meu olho não quisesse abrir a expectativa de fazer um voo de balão me deixou agitado. Já voei de planador e saltei de moto-juping agora estava de frente com um novo desafio.

Ver aquele enorme balão se encher e, em pouco tempo, subir com leveza – com cinco adultos a bordo – foi sensacional. Se fosse definir como é voar de balão diria que é como estar numa varanda flutuante. Voando ao sabor do vento o balão sobe quando o maçarico de ar quente é acionado e desce a medida que o comandante abre a saída de ar quente.

Subindo e descendo o piloto busca uma corrente de vento na direção desejada. Com habilidade o piloto Cassiano Marques passou rente a copa das árvores de forma silenciosa. Assim foi possível ver os pássaros e conhecer a floresta, nas cercanias de Rio Branco, de forma inédita.

a sombra do balão nas enormes castanheiras, parecia um sonho, nunca tinha voado assim...

Voamos por mais de uma hora e após o pouso a equipe preparou um café da manhã e depois, seguindo a tradição, brindamos com um espumante para comemorar.

Foi uma viagem muito diferente de tudo o que eu vivi. Uma aventura com mordomia que foi coroada com um dos momentos mais legais da minha carreira de jornalista especializado. Se você gosta de aventuras em lugares exóticos e conhecer locais inexplorados esse roteiro é feito para você. Há, se não tiver moto não há problema, o aluguel da moto e todo o serviço está incluso no pacote. 


RedRider é um programada de relacionamento da Honda com os  motociclistas e turistas. A marca oferece uma série de atividades como cursos de pilotagem, locação de motos, passeios curtos e até longas expedições como essa que participei no Brasil e até no exterior. 

Os roteiros podem ser feitos com motos próprias ou alugadas em diversas regiões do Brasil e também no exterior. No site honda.com.br/motos/redrider é possível obter mais informações como calendários de atividades, disponibilidade de motos e valores.

Saiba mais sobre a Honda Africa Twin: http://bit.ly/38oZR3g