quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Casal roda 48.000 km para percorrer as três Américas de Honda XRE 300

 Casal deixa a rotina, parte para Ushuaia e, depois, ruma para o Alasca a bordo de uma Honda XRE 300. Já nos Estados Unidos, a viagem foi interrompida pelo Covid-19. De volta ao Brasil planejam continuar a viagem

 Texto fotos: Jiuliano Eduardo Edição: Cicero Lima, material originalmente publicado na Revista Duas Rodas edição 537
 

Em 2016, fizemos, até então, nossa maior viagem de moto e atravessamos quatro países para chegar à Macchu Picchu, no Peru. Percebemos que trinta dias era pouco para conhecer tudo o que queríamos. Assim, em 2018 tivemos a ideia de ‘’largar tudo’’ e cruzar a América toda, desde Ushuaia, ao sul na Argentina, até Prudhoe Bay ao norte, no Alasca, EUA. 
Seriam dois anos de viagem, 80 mil km de estrada, conhecendo o máximo que pudéssemos da cultura e da história de cada país. Muitos motivos, além da rotina, nos levaram para a estrada: o desassossego de não se sentir em casa onde se vive e de se estar atado a um lugar sempre monótono. Existia ainda a necessidade de descobrir novos lugares, culturas, e de permitir-se viver a liberdade de transformar o sonho em algo concreto. 
Cruzar a América é um desejo que tenho desde os 12 anos, alimentado por filmes, livros, músicas e as histórias de aventuras publicadas na revista Duas Rodas, algo quase inalcançável. Nenhum dia é igual A vida de nômade é viciante, faz com que você sinta que não pertence a lugar nenhum e, ao mesmo tempo, que pertence a todo lugar. Apesar de algumas dificuldades, ter todo dia um lugar novo para descobrir é algo inexplicável e sempre novo. 

Acampar na praia, no parque Tayrona na Colômbia, nas Termas Del Plomo, nos Andes chilenos (acima), em um hotel abandonado na Rota 66, ou em qualquer posto de gasolina na Guatemala, por exemplo, traz a sensação de que o dia foi aproveitado ao máximo e, sobretudo, que o próximo, apesar das imprevisíveis possibilidades, será também. A opção pela moto foi fácil – 10 anos de trabalho pilotando diariamente – a escolha dela também, uma Honda XRE300, ano 2016, confortável, ideal para todas as estradas, presente em quase todos os países da América Latina e muito econômica. Viajamos com ela toda original, sem bolha ou banco confort, apenas baú traseiro de 45 litros e bauletos laterais de 21 litros cada. 
Na moto, levando apenas o essencial: roupas, ferramentas, e o equipamento para acamparmos. Sofremos com a falta de velocidade, sempre abaixo de 100 km/h por hora, devido ao peso, em algumas highways nos EUA e com o vento forte na Patagônia, algumas rajadas de 90 km/h por hora, faziam com que a moto não passasse de 30 km/h por hora, mas, no geral, só pontos positivos, principalmente nos mais de 5 mil km de estradas de chão que passamos. Além disso, as estradas esburacadas da Colômbia, destruíram o amortecedor traseiro que foi trocado pelo modelo usado na Tornado. 

 Partir com o que temos 

 O planejamento durou quase um ano. Onde ir, o que fazer e ver, documentos pra levar, quanto mais planejávamos, mais dinheiro víamos que seria necessário. Mas, a vontade de viajar era tão grande que decidimos partir em fevereiro de 2019 com o que conseguíssemos juntar. Foi uma viagem econômica e também trabalhamos durante o trajeto. O maior gasto é com hospedagem, então ficamos muito em campings. As hospedagens grátis do couthsurfing, um aplicativo onde pessoas te oferecem hospedagem grátis, em troca de experiências de viagem, são muito boas e servem para conhecer muita gente. 
No primeiro mês até Ushuaia, por exemplo, pagamos hospedagem apenas quatro vezes. 
Nos lugares onde não conseguimos locais grátis para dormir, o aplicativo ARBNB ajudou muito para encontrar lugares mais em conta. As estradas da América do Sul alimentaram nossas almas e têm atrações espetaculares. A lista é imensa e todas merecem ser conhecidas: Abra del Acay na Ruta 40 (onde passamos a 4.897 metros acima do nível do mar); Cuesta Del Obispo e Cuesta de Lipan na Argentina. A Carretera Austral, Caracoles e Embalse El Yeso no Chile; Canon Del Pato no Peru, Trampolim Del Diablo na Colômbia e muitas outras. O trecho mais difícil foi entre Uyuni na Bolivia e San Pedro de Atacama no Chile, quase 500 kms de off-road, passando pela Laguna Colorada, sem postos de combustíveis ou assistência, com um cenário espetacular no caminho todo. 

 Quanto custa? 

 Na América do sul é possível viajar em muitos países com 50 Reais ao dia, entre os mais baratos estão Bolívia, Peru e Equador, os mais caros são Chile e Uruguai. Na América Central, Costa Rica, Panamá e Belize são caros, já Nicarágua e El Salvador os mais baratos. Nosso maior gasto foi na travessia entre Colômbia e Panamá, 1.100 Dólares em veleiro, apesar do valor salgado valeu a viagem. As ilhas desertas de San Blas, no Caribe é um espetáculo, foram três dias de travessia e quase 30 horas de barco, devido as ondas, a Camila passou um pouco mal. 

O container é uma opção mais econômica, mas depende de dividir o custo com outras pessoas, e o período de ano que passamos (agosto) é pouco movimentado, levando em consideração o fim do verão no hemisfério norte. É possível atravessar pela mata o Tapon de Darien (que pode levar semanas), ou em barco pequeno desde Turbo, cogitamos fazer as duas, mas o risco de perder a moto no trajeto é muito alto. 

 Ao trabalho! 

 Na viagem trabalhamos em voluntariados em hostels, em uma área de preservação do urso andino no Equador, e pintamos casas em Buenos Aires. No Panamá e México, aproveitávamos as horas livres para ganhar dinheiro. Fazer turnos extras, vender chocolates aos hospedes ou brigadeiro na praia são alguns exemplos. O Panamá é um ótimo lugar porque a moeda (Balboa) equivale ao Dólar, o México também, porque recebem muitos turistas dos EUA que pagam em dólar. Ficamos três meses na América Central. Quem vai passar por ela rápido sofrerá, quase todas as fronteiras são terríveis, paga por tudo, além de ter muitas pessoas querendo vender serviços de que você não precisa. O ideal é evitar conversar com quem não seja um oficial de fronteira, e caso alguém te oferecer um serviço, diga que já passou por ali e conhece os trâmites. As fronteiras são parecidas, aduana, imigração e, se diferenciam, nas taxas. Se for com calma, vai adorar a América Central que possui diversas atrações; as inúmeras praias, muitos vulcões como o Masaya, onde se pode ver a lava de perto, cidades históricas, os sítios arqueológicos, e um povo receptivo que adora contar histórias, com destaque para a Nicarágua, país que mais gostamos. Antes de qualquer crítica, tem que levar em consideração a história de cada lugar. Com um passado de recentes guerras civis na maioria dos países da América Central, por exemplo, alguns países têm um alto índice de criminalidade e extrema pobreza. 


Gente boa 

Não podemos dar dicas de segurança, estaríamos mentindo. Visitamos grandes metrópoles, quatorze capitais, andamos à noite por cidades como San Salvador, conhecida pelo alto índice de violência. Não passamos por nenhuma situação de risco além do caótico trânsito no Peru, principalmente em Lima e no litoral, e ao norte da Colômbia. Aliás, percebemos que há muito mais pessoas com boas do que más intenções, independente do país. No México ficamos três meses. Infelizmente a polícia lá é muito corrupta, os agentes da fronteira também, enquanto ao tráfico e a violência fogem do controle, mas dificilmente afeta os “forasteiros”. O país no geral é espetacular, não à toa, o mais visitado da America Latina; cidades históricas, praias paradisíacas, sítios arqueológicos, cenotes (poços subterrâneos), vulcões, nevados, termas, cascatas, parques, diversos museus e, além de tudo, tem um povo muito receptivo. Já nos Estados Unidos não pagamos hospedagens nos primeiros vinte dias e é possível comer barato (mas não de maneira saudável). Com a chegada do Corona Vírus, as oportunidades de hospedagem ficaram escassas, os parques nacionais e os campings fecharam e tivemos que suspender a viagem e voltar. Ainda conseguimos conhecer o Texas (Austin, San Antonio, Dallas), viajar por quase 2 mil km da Rota 66 entre Oklahoma, Texas, New México, Arizona, e no final dela na Califórnia, passar pelo Death Valey (Vale da Morte, onde o pneu furou três vezes), passamos também por Albuquerque, Las Vegas, Los Angeles, além de várias pequenas cidades. 


Está registrado

Cada vez que ligava a XRE o painel mostrava o tamanho de nossa viagem. Deixamos o Brasil com 12.000 km acumulados, agora já tinha passado de 60.000 km. Apesar disso, por pouco tivemos que abandonar a moto antes de voltar ao Brasil, pois deixá-la num estacionamento seria muito caro. Assim pedi ajuda no grupo do VMAS (Viagem de Moto América do Sul) no Facebook, onde sempre postamos relatos de nossa página chamada USHUASKA. 
Muitos companheiros ofereceram ajuda, entre eles, Celso Gomes, que entrou em contato com um amigo de Los Angeles, Wolfgang, que não só abrigou a nossa moto, como foi buscá-la. Voltar para casa, quase um ano e meio depois de puta “estrada”, foi um choque muito forte, apesar dos perrengues a viagem estava sensacional. Deixar a aventura, de uma hora pra outra e voltar ao cotidiano é complicado, ainda não nos acostumamos, dificilmente vamos nos acostumar. Agora vamos trabalhar para tentar voltar e terminar a nossa viagem desde Los Angeles, onde nossa moto ficou. Pensamos que pode ser no próximo ano e já sonhamos explorar outros continentes. Quem sabe? Mas um passo de cada vez, sabemos que os dias nunca mais serão iguais... 
 Leia mais sobre a viagem na página: https://www.facebook.com/ushuaska/
Saiba mais sobre a XRE 300: http://bit.ly/2X37dU9

Um comentário:

  1. PARABÉNS JULIANO E CAMILA!!!👏🏽👏🏽👏🏽
    Que esta história sirva de inspiração para muitos outros "aventureiros" 😃👍🏾
    Que sonho!!!

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